O que uma embalagem de Twix pode nos contar sobre design, natureza e ser humano?

Recentemente tive a oportunidade de fazer uma viagem ao deserto do Sahara, acompanhado da minha irmã. Em certo momento estávamos na pequena aldeia Bérbere de Merzouga. Lá, o maior ícone do capitalismo era uma pequena lojinha que vendia apenas o mais essencial e, o que ficou claro para mim nesse momento é que em um ambiente tão vernacular e atrelado às raízes locais, tudo aquilo que é industrializado e globalizado nos chama a atenção.

Pequena cidade Bérbere, no Marrocos - Fonte: arquivo pessoal.

Quando paramos nessa pequena tenda para comprar água antes de seguir viagem, a Cíntia, uma colega de excursão, rapidamente percebeu o que estava exposto no balcão e disse: “Um Twix! Eu quero!” Ela então agarra o doce, paga os devidos Dirhams enquanto eu analiso o contexto. E confesso que essa simples cena me rendeu uma boa reflexão.

O pacote do suposto Twix estava ao lado de outros doces similares mas com embalagens bastante diferentes, com cores vibrantes e escritas em árabe. Pela simples diferença do uso das cores e da tipografia o biscoito em questão já se destacava dos seus concorrentes.

Mas ele foi além… Ao utilizar aquela relação de cores, letras, imagens e layout ele “fingiu” ser o Twix, ou pelo menos se posicionou como a sua versão marroquina, apelando ao repertório da Cíntia e incentivando a sua decisão de compra. Isso reforça a ideia de que em um ambiente desconhecido , tudo aquilo que nos parece familiar se torna portanto, mais atrativo.

Milwix, doce marroquino - Fonte: arquivo pessoal.

É tudo uma questão de reconhecer, decifrar e relembrar sinais. Estamos fazendo isso a todo momento, pois é assim que aprendemos e evoluímos. Buscamos, sempre, maneiras de tomar decisões mais seguras e mais rápidas. O que hoje o design e a publicidade fazem ao criar e publicizar marcas é apenas aplicar ao mundo dos negócios algo que sempre existiu na natureza: a mimetização. Para quem se interessar mais pelo tema e quiser uma boa introdução, sugiro o vídeo do Átila sobre o assunto: https://lnkd.in/eRh-vx_r

E por fim, podemos perceber que uma identidade vai muito além de um ícone ou algum símbolo específico. Pois o todo é muito mais que a soma das partes. Achamos que estamos vendo um verdadeiro Twix pela maneira como as cores, as letras, as imagens, o formato e material da embalagem, interagem entre si, através da sua relação.

Montagem inspirada na obra de René Magritte - Fonte: arquivo pessoal.

Design é uma ferramenta poderosa, é uma ferramenta de criar relações. Nos cabe então usá-la com crítica: que sinais queremos deixar para o mundo?